Muito se tem falado no projecto que junta a Fadista Lina e o Músico Raül Refree. Já temos um primeiro single (o genial ‘Cuidei que tinha morrido’), uma estreia ao vivo em Cartagena que foi um sucesso de público e crítica e agora a estreia em Portugal com o primeiro de quatro concertos por cá.

A expectativa era grande e o mínimo que se pode dizer do concerto no Teatro São Luiz é que foi impressionante. A abertura com ‘Medo’ mostrou logo ao que vínhamos: um inteligente jogo de luzes manteve o ambiente quase etéreo de uma casa de Fados, a muralha sonora que envolveu o tema é um autêntico murro nos sentidos e claro, a brilhante interpretação de Lina que nos trouxe toda a inquietação deste poema. Não há pausa entre os temas, o que numa plateia efusiva de portugueses conhecidos por serem um dos melhores públicos do mundo também contribui para a experiência sensitiva que se viveu esta noite.

O reportório da dupla tem o fio condutor de temas celebrizados por Amália, e mesmo os sobejamente conhecidos como ‘Gaivota’ encontram aqui uma nova ‘vida’, vida essa já eterna pela interpretação da nossa maior Voz.

Quatro temas e finalmente espaço para a plateia se manifestar com longos e efusivos aplausos, a noite é de Música. Música com M maiúsculo. Nunca se ouviu algo assim e a surpresa e a emoção que vivemos durante todo o espectáculo não nos deixa margem para dúvidas: o disco só sai em Janeiro mas este projecto é já um dos casos sérios que a música nos vai dar em 2020.

 ‘Avé Maria Fadista’ termina o espectáculo com a interpretação dos dois músicos a ecoar poderosamente pelo teatro e principalmente, a ecoar poderosamente por uma plateia visivelmente emocionada. Não há guitarra portuguesa, não há viola clássica, não há baixo mas esta foi uma das melhores noites de Fado que já vivi. Impressionante.

Texto: Jonas Santos / Fotografia: Rodolfo Contreras